domingo, 26 de janeiro de 2014

A controvérsia da Praxe

Ia eu em mais um dos tantos passeios por Lisboa e no meio das gentes que atravessam as ruas do Chiado ou da Baixa, do Rossio ao Martim Moniz, era possível ouvir a conversa alheia e de como a Praxe e as mortes naquela fatídica noite no Meco constituem o tema do momento. Pudera... com a divulgação massiva a que se é exposto diariamente por parte da imprensa, isto em vez de ser algo que só deveria dizer respeito às famílias dos estudantes que faleceram na praia e respetivas pessoas relacionadas, não às ideias e sobreposições do Ti Manel ou da Joaquina. Corre tinta e tinta e a verdade essa ainda se sabe praticamente zero, enquanto essa não é revelada, vivem-se de teorias mal fundamentadas atiradas pela comunicação social e pela opinião pública seja no jornal, na tv ou nos comentários das redes sociais. Pois dessas teorias a comunicação social influência a opinião pública e informa que as vítimas estavam a ser submetidas a um ritual de praxe... "Várias testemunhas apontam para...", "Foram vistos com pedras atadas aos joelhos", "Deixaram os telemóveis em casa"... São várias as manchetes que correm desde o ano passado. Chego ao ponto de ver numa revista cor-de-rosa as imagens das famílias na praia de joelhos lavadas em lágrimas... Eu pergunto-me a que ponto é que chegamos, em que se pega nas mortes de estudantes levados pelo mar e se vendem histórias e teorias como se de uma notícia de que o Justin Bieber foi preso se tratasse. Hoje tivemos o Marcelo Rebelo Sousa em direto da TVI a comparar a Praxe com o bullying logo de seguida temos na Secret Story concorrentes a serem submetidos a um concurso em que têm de mexer em "bichos" para conseguirem ganhar 5000 euros, isto não é uma comparação, são só factos, opiniões. O ponto disto tudo está no facto de esta história ser alimentada para continuar a correr tinta devido à Praxe, a comunicação social sabe jogar, ela está a limitar-se a vender aquilo que o povo quer acreditar. Então passou-se a esquecer que morreram pessoas numa noite na praia, mas passou-se a lembrar que a Praxe deve ser abolida e culpada disto ou daquilo. Será sempre assim, ontem na Igreja eram todos violadores, hoje na Praxe são todos uns criminosos, é assim que a crítica funciona, é assim que a imprensa subsiste. Aquilo que eu mais desejo neste momento é que a verdade venha ao de cima, e que venha não para eu ou o vizinho saber, mas para pelo menos "esclarecer" a dor daquelas famílias que perderam os seus filhos naquela noite, porque enquanto nós estamos aqui a falar e a defender isto ou aquilo, estão a estas famílias a sofrerem e a serem bombardeadas pelos Media e pela conversa alheia. Deixando uma breve opinião sobre as críticas à praxe (sim, isto para mim são duas matérias distintas, mesmo que venha tudo na ordem dos factos apresentados anteriormente, e que exista uma suposta relação da praxe e do acidente), a comunicação social está já cheia de opiniões e de ideias difundidas nos últimos dias acerca da Praxe, e nas mais detalhadas eu vejo sempre na mesma linha Praxe, Bullying, abuso, violência... Há aqui muita generalização como é de costume e também muita falta de conhecimento sobre os temas. Eu sou caloiro eu ESCOLHI ser praxado, ninguém me obrigou e garanto que pelo menos no meu caso e no que assisto e tenho conhecimento não estou a sofrer de bullying, porque essa definição eu também a conheço melhor que ninguém, bullying é ser perseguido durante anos na escola, bullying é verídico, não é aquilo que a Praxe submete, esta procura integrar os novos membros na comunidade académica. Eu sou muito tímido e ainda assim escolhi submeter-me à Praxe, e passei uma semana inteira com um sorriso na cara, numa semana que comecei "inseguro", recordo agora com um momento surreal, inigualável e épico na minha vida. Arrisco em dizer que nem na escola primária a integração foi tão bem sucedida, e que mudou e muito a minha componente social. E não me contem a história de que não integra, porque se eu sou a pessoa introvertida que sou e através da Praxe eu dei-me a conhecer, após os cânticos, os gritos, as danças, havia sempre alguém que procurava conhecer mais e meter conversa. Houve e há sempre alguém que vem falar contigo quando estás em baixo, quando estás com uma puta de uma narsa e não podes ir para casa, alguém para te dizer que te estás a destruir... E não é que após uma semana de Praxe, entrar numa sala de aula a primeira vez é muito menos doloroso porque mais de metade das caras presentes já te são de todo familiares, porque durante a Praxe foste involuntariamente obrigado a conviver, a conhecer as pessoas que te rodeavam, a formular opiniões, a partilhar gostos, a rir... É claro que isto tal como as opiniões anti-praxe, também não é generalizável, isto foi o que me aconteceu, o que aconteceu ao vizinho do lado pode ser diferente. Com a Praxe reinventei-me, com a Praxe integrei-me.


7 comentários:

  1. Com a praxe, tornaste-te no Versailles :) Enough said!

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  2. Eu sou completamente a praxe de humilhação. Acho que não é isso a função. Mas, se for bem feita, a praxe não é isso. E a minha experiência de praxe foi, felizmente, parecida com a tua. Estou no 2º ano e recordo, com muita saudade e felicidade, os meus dias de praxe. Sim, houve problemas, sim houve coisas que não faria caso fosse outra situação mas também nunca fui obrigada a fazer nada nem nunca obriguei ninguém a fazer nada. Na verdade, fazer coisas fora da minha zona de conforto, mas dentro dos meus limites, fez-me sair do mue "casúlo" e ajudou-me a integrar-me melhor. Vivi alguns dos melhores momentos da minha vida neste ano e meio de estudante universitária e fiz amigos que vou guardar para a vida, a maioria destes momentos e amigos provocado directa ou indirectamente pela praxe e outras tradições académicas também criticadas.

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  3. so happy that it was fun. one of the best years definitly =D

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  4. Ah grande Diogo. Isso sim é falar. E estou de acordo com tudo o que disseste sobre as praxes. Eu também fui praxada e adorei, se fosse preciso voltaria atrás no tempo para poder vivências tudo de novo. Foram as melhores semanas da minha estadia em Beja. Estava, e estou, longo de casa e se não fossem as praxes eu anda hoje continuava tímida e sem qualquer tipo de integração no mundo académico. Foram os meus veteranos e supremos que conseguiram fazer esse papel de integração, de único, de espírito de grupo, a força de vontade. Sem isso continuava aqui feita Coitada XD. Dura Praxis, Sed Praxis

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    1. Exatamente, eras tu e eu, tímido como sou... até o Pedro vê tipo a diferença da Profi para a faculdade, de como agora falo com muita gente e estou sempre nas festas a conviver com o pessoal. Se não fosse a praxe continuava no meu cantinho

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